Wednesday, December 05, 2007

Da Psicoterapia como uma das Belas - Artes


Cancello diz, no “fio das palavras” que o que caracteriza a humanidade é a procura da essência. Existir é essa procura. Como psicoterapeutas o que nos propomos nesta relação tão especial e diferente, que na sua neutralidade possibilita um potencial projectivo, é promover o Encontro (Buber). Um Encontro entre o Eu e Tu que reabilita a possibilidade amorosa, dialógicamente no entre nós, aceitando e confirmando o outro, abrindo-lhe a possibilidade de atingir o seu potencial humano. Ajudando-mo-lo a acreditar que pode ser amado, amando-o, num amor transpessoal e humanista que transcende o amor romântico (Cardella). Responsabilizando-o por si, dando-lhe a perceber que é ele quem maneja os instrumentos e o retorno das coisas agindo sobre elas. Alcançando a cosmovisão do outro (Yalom), permitimos-lhe encontrar o seu projecto existencial, o seu sentido da vida, ultrapassando o seu isolamento existencial e o seu receio da finitude, essa morte em vida que paralisa. E tudo isto aqui, neste momento, presentificando a memória e reparando-a na relação aqui, reassegurando-o, seguindo o fio das suas palavras e desse modo saber ler no seu mapa sem a preocupação de explicar. E ao abdicar da necessidade de explicar, abdicando de criar uma distância assimétrica pelo prazer de conhecimento, possibilitamos-nos sim compreender, fechar os olhos e deixarmo-nos guiar pelo seu sentir, pela sua percepção dos coisas.
A psicoterapia torna o implícito explicito e o não consciente consciente, através da narrativa, palavras que traduzem imagens, sentimentos e intuições ao ouvinte. E esse encontro é fundamental, além de ser a base da psicoterapia é a solução criada no momento agora , para promover mudança ou fazer uma viagem no sentimento partilhado (Stern).Ou seja vai potenciar uma reestruturação da sua vivência. A dimensão temporal é matriz, é chave para entrar na vivência do sujeito. Vai reestruturar o passado, mas uma vivência registada nos moldes temporais vividos (Experiência Emocional Correctiva- Alexander). É um processo neurológico em que o domínio temporal (Cairus) abre a janela de oportunidade que é o encontro gerador de mudança.E é neste encontro em que o terapeuta tem que estar totalmente presente, autêntico, disponível e abdicar de si sem abdicar de si, num equilíbrio que se pretende absoluto sem negar a humanidade e o sentir, que o terapeuta se encontra e se perde por vezes na responsabilidade. E é assim, numa actividade que envolve um domínio profundo da técnica e da teoria e que exige um conhecimento profundo de si e disponibilidade e competência de amor por si e pelo outro, que se dá uma forma de arte, em que o todo é muito mais do que a soma das partes, e a variável x está para além das palavras.

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