Friday, August 17, 2007

Itacaré


Digo primeiro o que guardei nas mãos
E que foi um aroma
De flor nascida no mar
Misturada com outro, de dentro da ameixa
Quando é transparente
E tem debuxos de veias no acesso da pele

Digo segundo o que guardei no corpo
E foi um peso que já cá não estava
Retirado e presente
Um contentamento pisado de mucosas
Um quebranto azulado
Como se a primavera se deitasse a pensar no que fez
E não ouvisse as cantigas do vento
Ou cantigas de bicho
Mas tão somente as fontes
Branco suspiro satisfeito da terra.

Digo depois o que guardei nos olhos
E foram grandes pedaços de gestos novos
Tão antigos que a memória
De alguém em mim os conhecia
Pormenores como no cinema
Um sombrio de pestanas
Um recamado a cheio
Uma curva de lábio
Um concavo de ventre
Até que dentro das pálpebras só desfilaram rios
E eu já nada sabia do que fora ou pensara
Apenas existia ou desaguava
Como um ramo à deriva
No entrevisto do mar

Digo por fim o que guardei no coração
E que foi o teu nome.



memórias do corpo RLF

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