Thursday, December 15, 2005

peregrinações


Eu gosto de horas suspensas em tempos parados, gosto de peregrinar pelos locais onde deixei bocadinhos de mim, das minhas memórias e onde volto para me reencontrar. Gosto de fotografias e de recordações, gosto de coisas escritas e de livros de páginas amarelecidas pelo tempo (para mim, a verdadeira imortalidade que falava o Virgilio Ferreira), patrimónios de sabedoria inestimável.
Gosto de silêncio, e do silêncio quebrado devagarinho, gosto de gestos suaves que não quebram feitiços. Gosto de momentos. Momentos no meio de momentos. Gosto de olhar... perscrutar, deixar-me envolver. Gostava de poder olhar mais vezes, voltar mais vezes, estar em silêncio mais vezes... Gosto de dias melancólicos, gosto de poesia porque afinal "tudo o que é belo é triste... e o resto é perfume..." gosto de coisas antigas e de água, da transparência e do som da água, como uma carícia que nunca termina e se torna opressiva. Gosto de beleza , da beleza das coisas simples, que não se compram, nem no natal.
Gosto do natal também, do quentinho da lareira, o lume a crepitar, o cheiro do musgo do presépio da minha infância, das filhoses aos pulinhos na sertã a ficarem douradas, o pinheiro roubado que cheira a resina e gosto de ir aquecer o menino na fogueira depois da missa do galo. O Natal são as luvas quentinhas e o frio de gelar que nos deixa coradinhas e o nariz a pingar, é o cheiro da terra molhada, os postais de natal que insisto em comprar na esperança de estar a ajudar os meninos da UNICEF, mas acima de tudo o natal é a cor de estarmos todos á volta da fogueira, natal é onde está o nosso coração.

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